sábado, 25 de agosto de 2012

CIDADE DE MURO BAIXO

Orla do Meireles na década de 60



Na década de sessenta Fortaleza ainda era uma província. Mesmo com alguns raros requintes, ainda vivíamos na paz.
Meu avô chamava “cidade de muro baixo”. Assim dizia porque todos se conheciam. Fosse no clube ou cinema as caras eram as mesmas.
O hoje valorizadissimo bairro Maireles ainda era constituído de terrenos vazios com muitos cajueiros. Os pássaros cantavam e alçavam vôo livremente. Eram em galhos de arvores que pousavam e faziam seus ninhos e se alimentavam dos frutos e incetos. A natureza agradecia e a criançada, correndo no areia, descalça, era sadia.
Neste ambiente passei minha infância e adolescência. Explorei toda esta área sem o requinte das manções e luxuosos prédios de apartamentos. Era muito bom! Nada mudava a tranqüilidade do Meireles neste período.
A paia, destituída dos arranha-céus, dominava imponente a costa emoldurada por casebres onde moravam pessoas simples e felizes. Todos os dias eu caminhava onze quadras para ir namorar. Sem iluminação pública, com postes sem luz, algumas aqui outras acolá, mesmo assim nada de violência. Voltava para casa às onze horas da noite, caminhando, solitário, não tinha viva alma. Nada acontecia! O Espírito de Deus pairava sobe nós! Tempos que não voltam mais! Tempos da Maria Pescocim e do Chico, filho dela, que marcaram minha infância, porque moravam numa casinha de taipa nas quadras que ladeavam a Av. Barão de Studart. Era uma lavadeira sem nenhuma instrução, mas tinha a casinha dela e o Chico freqüentava o nosso meio. Nunca ouvi falar em drogas, violência e eram tão pouco os carros de passeio, que não conhecíamos engarrafamento. Ainda era uma Fortaleza bela!


Alvaro de Oliveira
Orlando, 25/08/2012