Fotografia: Kuarup Mawutzinin
Da selva fria de fios, aço e concreto, sólida, que invade a
paisagem da minha varanda, nada salva da beleza da natureza que existia no
lugar.
Concreta nos seus elementos, sólida na sua natureza, aparência
que somente agride a alma de quem outrora conheceu a aurora por detrás do
cajueiral nativo, onde revoadas de sabiás coco enfeitavam suas copas e se
aninhavam num longo canto de amor.
Encantando no encanto do seu cantar, invadiam corações, sem
sedução, fazendo chorar a alma dolente de quem conheceu o passado daquele ente,
no contemplar, testemunhando um tempo de paz.
Nesta selva inapta, meu ser perdeu-se no pensar dos tempos
de criança, quando o cajueiral dominava toda esta região do Meireles, quando
ninguém aqui queria morar.
Somente o povo da região, periferia então, sabia das chuvas
do caju, do canto da sabiá, do pendúculo vermelho a contrastar com o verde da
folhagem espessa e galhos retorcidos pendentes em grandes copas, sombreando o
lugar.
Somente os passarinhos, faziam seus ninhos e a alegria do
ambiente sem compromissos, sem sacrifícios, sem conhecer violência, indolente, merecia
um despertar.
Hoje me debruço na varanda e minha visão se perde no
concreto indiscreto, sem emoção, e eu fico a pensar como o progresso é excesso
na sua forma de ter. O prazer e os valores se transformam e nada mais informam
do que será, da natureza encantada que se perdeu com a invasão da especularão
imobiliária.
Fiquei somente nas minhas lembranças a me perguntar se vale à
pena tanto progresso...
Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 19/10/2012