sábado, 30 de junho de 2012

POÉTICA DO AMOR QUE CURA







            A tarde estava caindo e de repente o ocaso rompe o silêncio de nossas vidas. A ferida estava lá, dentro do seio, que a tantos veio e da vida somente tinha pra dar. Viveu, como se vive, peregrina, cumprindo, caminhando, no seu mundo de dar, mesmo sem receber. Cumpria seu dever!
            O medico, que não tinha o remédio, se pôs a pensar:
- Que remédio vou dar, se de nada sei estar, se nada posso ver.
O Medico, dono da vida, que sabia das mentes sofridas, dos momentos de anseios, dos meios, colocou na sua vida o medico que sabia do dar. Sabia do prazer de curar. Sabia da beleza, da natureza, do comungar. E o Medico, que cura, rompeu o silêncio, o ocaso da vida e com sabedoria incontida, fez a aurora chegar. Aurora que iluminou e que agora, explode de dentro pra fora, e a faz mais bela que outrora. É um amanhecer especial que transforma e dá nova forma a vida abençoada de quem só ofereceu amor.
            E assim termina essa história, que componho agora, sem saber como terminar, porque o Medico da vida, dono da felicidade, volta e meia invade, cá dentro, o nosso lar.


Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 30/06/2012

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O CORAÇÃO RECLAMA ESTA PAZ



            



            Ontem eu cheguei em casa com desejo. Se fosse mulher diria que estava grávida. Era um desejo imenso de comer mexidinho de arroz com ovo.
Pense!
Deu água na boca não foi?
É muito bom!
Fui eu mesmo para o pé do fogão preparar a minha iguaria, que por sinal sou expert. Faço o melhor mexidinho de ovo da paróquia. Ingredientes na mão, começo minha proeza quando a Leda entra na cozinha e se depara com a marmota. “Vixe!” Ta com saudades do tempo de solteiro? É a cara da tua casa! Eu chegava lá de surpresa e você estava jantando mexidinho preparado pela dona Eneida.

            Aprendi com ela. Que mãe maravilhosa eu tive! Além de todas as coisas boas que me passou, também me ensinou a gostar das coisas simples. Simples, mas que todo mundo gosta. E ela fazia aquele prato como se estivesse cozinhando a mais suculenta iguaria. Com amor e um sorriso nos lábios. Com felicidade e um carinho especial que somente ela conseguia passar.
O carinho começava na compra do ovo. Era um ritual. Toda semana passava a dona Maria com um cesto de ovos debaixo do braço. Gritava na porta lá de casa e a dona Eneida, mãe maravilhosa, saia rebolando os quartos para conferir. Com uma panela de água ela ia colocando ovo por ovo, dentro, para ver se estavam bons. Se boiava estava goro. E assim ela escolhia os melhores ovos de galinha pé duro.
E eu ganhava o melhor mexidinho e muita marra e energia para as traquinagens de adolescente.
Bons tempos de outrora!
O coração reclama esta paz.


Alvaro de Oliveira
28/06/2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

MEU CORAÇÃO CHOROU

Fotografia: Alvaro de Oliveira


            Hoje eu acordei com um sol maravilhoso. Um céu belíssimo. Dignos de um feriado de Corpus Christi.
Podia, sim, louvar a Deus pela criação!
De repente uma Lavandeira cruza o meu caminho e me remete a meus tempos de infância na rua Silva Jataí.
Na minha casa, elas faziam ninho no pé de pitombeira que tinha no quintal.
Era tudo tão natural! A natureza era exuberante e nós víamos da varanda toda a orla marítima do início da avenida Barão de Studart.
Nesta praia eu vivi minha infância mais bonita. Ali eu jogava bola, nadava, pegava carretilha (jacaré), vivia minha inocência.
Hoje eu moro há uma quadra do mesmo lugar.

                        Hoje o sol continuava belíssimo como o de outrora. O céu estava belíssimo como o de outrora. Hoje, com o mesmo olhar, com este dia maravilhoso, eu buscava os mesmos encantamentos de outrora, na Lavandeira que cruzou meu caminhar.
Quanta decepção no olhar!
Minha mente, inesperadamente, recebeu um choque do progresso. Aquela esquina, outrora linda, foi dilacerada, destruída. O mesmo progresso, que rouba toda a biodiversidade no mundo global, devastou toda a natureza e assassinou a beleza da minha praia.
Meu encanto de infância foi destruído.
                       Clamei socorro ao Jesus criador presente em corpo e sangue na minha eucaristia.

                        Meu coração chorou diante de tanta agressão!



                                                                                                          













Avenida Barão de Studart antiga
Foto de Nirez                                                                                                                                                                      

                                                                                                                          Lavandeira

Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 07/06/2012