quinta-feira, 17 de maio de 2012

OS VILLAS BOAS, HERÓIS NACIONAIS!


            Os tropeiros conversam agora sobre a caçada: cada um salta em defesa do seu cachorro predileto.
            - Quem acho premero a porcada foi o Roncador – diz Ferreira.
            - Ta doido quem num conhece o Seguro barrando, moço! – replica Santana.
            - Seguro ta veio, Santana – volta o primeiro.
Qui ta veio eu sei, mas aqui num tem cachorro qui dê num rasto dum bicho e qui depois de pegá num larga mais, isso num tem. Veja a onça doutro dia. – argumenta Santana.
            - Esse nogoço de sê veio num infrói. Eu cunheço um veio no Piauí, veio memo, que põe roça, lida com gádu e inda caso cum moça moderna [nova] – entra na conversa Mariano.
            - Para, mariano. Nóis ta falano em cachorro e ocê vem cum gênti; isso lá é jeito, moço? – protesta Zequinha.
            - To só veno. Ninguém fala na Gestapo. Aquele porco ali – aponta uma manta no varal -, foi ela que trouxe pro ponto da 44. Foi só vê, arrastei o dedo. Agora ta aí pro cês cume – acrescenta, rindo, Piauí.
            - Ta doido, que nego mitido, gênti – observa Mariano.
            - Óia, Piauí, eu num sô muito branco, mais nêgu oxidado qui nem ocê e o juâo nem deve entrá na cunversa dus cráru que nem nóis – fala Elias.
            Risada geral. João e Piauí riram também.

            Esta conversa, belíssima, deu-se em dezembro de 1945 e foi narrada por Orlando Villas Boas no livro “A Marcha Para o Oeste”.
Ela ilustra muito bem a saga do nordestino que, juntamente com este herói, desbravou a região onde hoje está implantado o Parque Nacional do Xingu. Área de preservação indígena e da natureza.
Heróis que foram esquecidos nos livros de história e que nada representam hoje para nossa juventude.
            Por sinal, neste fim de semana perguntei a jovens da década de 70 se eles sabiam quem era Orlando Villas Boas. Nenhum soube responder. Em seguida perguntei se sabiam quem era Luis Carlos Preste. Todos já tinham ouvido falar e ligavam o nome à luta contra à revolução militar.
            Lamentável!
            Mal sabem eles que Prestes, o criador da Intentona Comunista, juntamente com a sua esposa, a alemã Olga Benário, tentaram tomar, a força, o poder de GetúlioVargas e implantar o comunismo no Brasil. Foram estes dois Terroristas, a serviço da Russia, assassinos, que mataram a jovem de 18 anos, Elza Fernandes, militante do partido, acusando-a de entreguista. Depois ficou comprovada que ela nunca tinha cometido este ato.
            Heróis nacionais como os Villas Boas são raros e esquecidos pela história.
            Nossos heróis nacionais foram enterrados pela cultura...
            Quem sabe a história, um dia, resgate esta nossa verdadeira memória!


Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 17/05/2012

Fonte: O texto em itálic foi retirado do Livro "A Marcha Para o oeste" - Orlando Villas Boas e Cláudio Villas Boas - Companhia das Letras - 119
Informações sobre Luis Carlos Preste e sua esposa Olga Benário do Wikipedia.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

QUARUP


                      Gosto de ir à tardinha na cafeteria da livraria Saraiva, no Iguatemi, tomar um cafezinho Santo Grão, longo, com um pedaço de bolo de maçã com canela. Gosto do café bem forte e este é especialmente adequado ao meu gosto.
Segue-se sempre um bom papo com algum dos meus filhos e quando estou só, aproveito para folhear algum livro que me chama a atenção.
                      Ontem foi um deste dias que estava só e me encontrei navegando pelas folhas riquíssimas, em aventuras, dos Villas Boas. Estes três irmãos, Orlando, Cláudio e Leonardo, foram responsáveis pela criação do parque do Xingu, pacificação e preservação de vidas e cultura indígena, na região amazônica brasileira.
Verdadeiros heróis nacionais, que desbravaram e enriqueceram a cultura popular do nosso Brasil.
Ao contrário da coluna Prestes, que somente plantou a discórdia e o terrorismo, e é reverenciada nos nossos tempos, estes verdadeiros heróis pouco são lembrados.
                        Mas o interessante é que, folheando o livro “Orlando Villas Boas: Expedições, Reflexões e Registros”, busquei o diário referente ao dia 25 de Setembro de 1947 e ali estava registrado, que nesta data, os indígenas realizaram, na Aldeia, a festa do Quarup. Uma belíssima manifestação espiritual que homenageia a criação, o Criador e a criatura.
Emocionei-me! Foi o dia em que eu nasci...

Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 10/05/2012