terça-feira, 6 de novembro de 2012

MARIA E O MAR



Eu estava na praia a contemplar o mar. Batia e voltava, batia e voltava, no quebra-mar de pedras, ainda hoje, único monumento preservado naquele pedaço de mar da minha praia. Lembranças!

Eu olhava para o mar e pensava em Maria. De um modo especial, em Maria de Nazereth.
E também pensava no mar!

Dois entes especiais que a natureza divina colocava, naquele momento, no meu caminho para que eu pudesse contemplar a beleza.

Em um eu podia ver, e tocar, e molhar minhas mãos e meus pés. Podia sentir-lhe o calor acumulado nas águas, a leveza de ser água, a liquefação do ter, um corpo inteiro molhado.
Incansável no seu ir e vir, batendo no quebra-mar. O contar com o silêncio de um cantar; era a natureza mostrando toda a beleza do seu inconsciente que nada mais tinha a guardar.

A Maria eu não tocava, não via, não sentia seu calor, nem seu corpo molhado, mas sabia que ela ali estava, do meu lado, como mãe extremosa a me tocar, a cuidar do meu ser, a me apresentar aos anciãos no templo da natureza.

E a água batia e voltava nas pedras do quebra mar cantando sempre a mesma canção.
Por que eu pensava em Maria, se ela não falava, não contava seus argumentos, nem no mar tocava com suas mãos, nem parava pra me olhar? Esta Maria dos meus devaneios era uma Maria muito especial.

Real, irreal, real, irreal, um vai e vem sem causa...

Mas era especial como aquele mar. Calma, mansa, batia e voltava. Era especial! Especial como todas as mulheres escolhidas para serem especiais porque gerariam no seu útero seres especiais, filhos especiais de um Deus especial e que tinha naquelas mulheres especiais a condição necessária para gerar seus filhos especiais.

O mar era especial como Maria!

Dolente, indolente, dolente, indolente, ele era especial e trazia no seu útero o liquido amniótico, alimento da natureza, idêntico ao liquido do útero de Maria e de todas as Marias especiais com filhos especiais.

Ela sabia de tudo. Do filho especial que teria; sabia até que não poderia evitar esta dor.
O mar não sabe, mas guarda, no seu útero, as batidas nas pedras como batidas de um coração a cantar a solidão.

Eu estava a contemplar e via no mar Maria embalando Jesus no seu vai e vem, vai e vem, vai e vem...

O mar batia nas pedras do quebra-mar e no seu vai e vem era calmo; era como se guardasse tudo no seu coração...


Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 06/11/2012