domingo, 29 de abril de 2012

O LAZER DA PERIFERIA


                                               Primeiro dia, em Fortaleza, após uma temporada em Orlando. A gente fica desacostumado depois de imersão na civilização e o instinto observador aguça.
Cheguei no shopping para colocar os trabalhos em dia em pleno domingo.
Dia de passeio da periferia!
Esse povo passa a semana enclausurado no lixo e final de semana querem sentir um gostinho do luxo.
Vão pro Shopping!

Sobra para eles a diversão, falta para nós, que não temos culpa, o mínimo de princípios de educação.
Coitados, não têm escola! E o pouco que resta e consumida pela droga. Sim, a droga está invadindo as escolas e os adolescentes, na periferia, só assistem aula drogados e armados.
A professora que se cuide! Fica a mercê de vândalos que quando são contrariados destroem tudo. Inclusive vidas!

Mas, estes fenômenos sociais, escolhem o shopping center para seu lazer dominical.
O certo é que no elevador, onde gente civilizada faz fila, tem é ruma. É aquele bolo só de gente, se empurrando, a espera da porta abrir. E quando abre o grupo entra como bando sem esperar que os que estão dentro saiam. Neste empurra-empurra todos se salvam, mas fica no coração da gente uma amargura. Uma dor de saber que esta crescendo uma juventude sem rumo, refém dos tempos dos direitos humanos.

Quantos direitos serão construídos sem, no entanto, assumirem a responsabilidade ao direito primário da educação!


Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 30/04/2012

O BEM-TE-VI DAS 13:30HS


Hoje as 13:30hs, como todo dia impreterivelmente neste horário, recebi a visita do Bem-Te-Vi que pousa no alambrado da quadra de futsal em frente a minha janela. Mandou-me a sua mensagem de alegria num mavioso cantar.
Depois voou! Volta amanhã!
Remeteu-me aos meus belos tempos de criança. Com os colegas da rua Silva Jataí, ia caçar passarinhos, armados de baladeiras, no terreno baldio, repleto de cajueiros, onde hoje fica o Palácio da Abolição.
Entravamos, com o sentimento de grandes caçadores, prontos para matar. Nenhum tinha coragem para tal, tínhamos o coração mole. Findávamos chupando caju e contando prosa. Que delicia!
                                   Hoje, na mesma área, o Bem-Te-Vi vem me visitar diariamente. Quem sabe os pássaros tem o dom especial de transmitir através do seu cântico, de geração a geração, a sua história.
                                   Sinto-me gratificado com o canto das 13:30hs.
                                   Sinto como estivesse recebendo um canto de agradecimento.
                                   De amor!


Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 30/04/2012

sábado, 28 de abril de 2012

TERCEIRO MUNDO


                                   Chegamos bem mais cedo no aeroporto de Orlando para pegar o vôo para Fortaleza. Feito o chek-in, sentamos em frente e ficamos curtindo a chegada dos turistas para o embarque.
Lembrei-me do meu primeiro vôo. Foi num Douglas DC-3 da Varig. Neste dia também vesti o meu primeiro terno. Paletó com calças curtas, porque criança não vestia calças compridas. Os passageiros, todos, usavam terno e as mulheres vestidos e muito alinhadas.
A refeição, no avião, era servida em louça inglesa com talher de prata.
                                   Em Orlando, os passageiros começavam a chegar em grande quantidade. Trajavam jeans e camisa pólo para ambos os sexos. Alguns, bermudas e camiseta. Como os tempos mudam! Durante o vôo serviram um fraquíssimo lanche em depósitos de plástico com talher de plástico. Mas o grande contraste estava para acontecer na chegada. Enquanto em Orlando a organização, o respeito e o conforto, além de um aeroporto dos mais modernos do mundo,davam o tom à canção da satisfação, nossa chegada no aeroporto de Guarulhos foi um caos.
Pessoas se atropelando, empurrando, cortando fila, gritando. Salões lotados, aeroporto mal cuidado e pra completar nosso vôo, para Fortaleza, sem previsão de saída. Está longe, muito longe de sairmos de Terceiro Mundo!


Alvaro de Oliveira
São Paulo, 28/04/2012

sábado, 7 de abril de 2012

INCOMPREENSÍVEL


                                               Nunca vi o Mall at Millenia tão cheio. Povo por toda parte e as lojas lotadas. Pensei! Que crise é essa que se fala! Apurando mais os ouvidos vi logo! Eram os brasileiros invadindo o shopping.
Logo uma brasileira do Ceará que mora em Brasília, à muitos anos, sentou do lado da Leda, na fonte do hall principal, enquanto ela esperava que eu fosse pegar o carro no estacionamento lotado. Conversa vai, conversa vem, voltei com o carro pra estacionar novamente e resolvemos ficar mais um tempo papeando.
É assim mesmo! Cearenses quando se encontram as prosas rolam até o amanhecer! E a alegria!
                                               O fato era que a paranaense, que acompanhava a cearense, tinha perdido um filho com 24 anos e estava fazendo aquela viajem para espairecer. Para ela era incompreensível aquela perda. Muito sofrimento a perda de um filho tão novo. A estória era triste e a senhora se mostrava muito sofrida. Lá pelas tantas resolvi entrar na conversa e tentar dar uma explicação metafísica para a questão. Contei que quando eu era estudante e estava fazendo meu vestibular de arquitetura, na prova de desenho artístico, o professor tinha passado e pedido o desenho. Em seguida me mandou embora. Fiquei sem saber o que estava acontecendo e encabulado com o ocorrido. Resultado é que tirei 10 na prova. Conclui que se eu tivesse continuado a desenhar talvez estivesse estragado o desenho. Aquela atitude do professor era na realidade um premio. Esta senhora me olhou e disse-me:
- Entendi!
E as lagrimas rolaram!...
Os planos de Deus são incompreensíveis!


Alvaro de Oliveira
Orlando, 08/04/2012

quarta-feira, 4 de abril de 2012

FORTALEZA BELA!


                                           Com 10 anos de idade eu pegava o ônibus da linha Praia de Iracema na esquina da Avenida Barão de Studart com a Avenida Aquidabã ( hoje Rua Raimundo Girão ), em frente ao Clube dos Diários e descia na Praça Waldemar Falcão, no Centro da Cidade.
O motorista era o seu Manuel. Um homem decente e muito bem apresentado. Eu entrava e fica sentadinho, calado, no meu lugar até o ponto final. Descia do ônibus e seguia a pé, pela Avenida Duque de Caxias, até a RuaTeresa Cristina para tomar aulas de pintura com a Dona Maria Alice Nobre.
Esta paciente mulher me ensinou tudo o que sei hoje relativo as mistura de cores e técnica de pintura com óleo.
                                   Mas há de se destacar, na verdade, a criança de 10 anos, que seguia a pé pelo centro da Cidade e não era molestado.
Eram outros tempos estes dos idos de 1957! Não se falava em drogas! A criminalidade rondava unicamente com os ladrões de galinha que escalavam na madrugada os muros residenciais para assaltar o galinheiro.
                                   Também tínhamos medo, principalmente as mocinhas, dos “rabos de burro”. Termo popular que denominava aqueles rapazes mais audaciosos no trato feminino. Era mais uma forma das mães meterem medo nas crianças.
                                   Nestes tempos não se falava em drogas, nem criminalidade, nem traumas psíquicos, nem políticos desonestos, nem em globalização, nem em desemprego... Tudo era muito mais leve.
Vivíamos na verdadeira Fortaleza Bela!