Eu estava na
praia a contemplar o mar. Batia e voltava, batia e voltava, no quebra-mar de
pedras, ainda hoje, único monumento preservado naquele pedaço de mar da minha
praia. Lembranças!
Eu olhava para o
mar e pensava em Maria. De um modo especial, em Maria de Nazereth.
E também pensava
no mar!
Dois entes
especiais que a natureza divina colocava, naquele momento, no meu caminho para
que eu pudesse contemplar a beleza.
Em um eu podia
ver, e tocar, e molhar minhas mãos e meus pés. Podia sentir-lhe o calor
acumulado nas águas, a leveza de ser água, a liquefação do ter, um corpo
inteiro molhado.
Incansável no seu
ir e vir, batendo no quebra-mar. O contar com o silêncio de um cantar; era a
natureza mostrando toda a beleza do seu inconsciente que nada mais tinha a
guardar.
A Maria eu não
tocava, não via, não sentia seu calor, nem seu corpo molhado, mas sabia que ela
ali estava, do meu lado, como mãe extremosa a me tocar, a cuidar do meu ser, a
me apresentar aos anciãos no templo da natureza.
E a água batia e
voltava nas pedras do quebra mar cantando sempre a mesma canção.
Por que eu
pensava em Maria, se ela não falava, não contava seus argumentos, nem no mar
tocava com suas mãos, nem parava pra me olhar? Esta Maria dos meus devaneios
era uma Maria muito especial.
Real, irreal,
real, irreal, um vai e vem sem causa...
Mas era especial como
aquele mar. Calma, mansa, batia e voltava. Era especial! Especial como todas as
mulheres escolhidas para serem especiais porque gerariam no seu útero seres
especiais, filhos especiais de um Deus especial e que tinha naquelas mulheres
especiais a condição necessária para gerar seus filhos especiais.
O mar era
especial como Maria!
Dolente,
indolente, dolente, indolente, ele era especial e trazia no seu útero o liquido
amniótico, alimento da natureza, idêntico ao liquido do útero de Maria e de
todas as Marias especiais com filhos especiais.
Ela sabia de
tudo. Do filho especial que teria; sabia até que não poderia evitar esta dor.
O mar não sabe,
mas guarda, no seu útero, as batidas nas pedras como batidas de um coração a
cantar a solidão.
Eu estava a
contemplar e via no mar Maria embalando Jesus no seu vai e vem, vai e vem, vai
e vem...
O mar batia nas
pedras do quebra-mar e no seu vai e vem era calmo; era como se guardasse tudo
no seu coração...
Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 06/11/2012
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