sexta-feira, 19 de outubro de 2012

SELVA FRIA



Fotografia: Kuarup Mawutzinin




Da selva fria de fios, aço e concreto, sólida, que invade a paisagem da minha varanda, nada salva da beleza da natureza que existia no lugar.
Concreta nos seus elementos, sólida na sua natureza, aparência que somente agride a alma de quem outrora conheceu a aurora por detrás do cajueiral nativo, onde revoadas de sabiás coco enfeitavam suas copas e se aninhavam num longo canto de amor.
Encantando no encanto do seu cantar, invadiam corações, sem sedução, fazendo chorar a alma dolente de quem conheceu o passado daquele ente, no contemplar, testemunhando um tempo de paz.

Nesta selva inapta, meu ser perdeu-se no pensar dos tempos de criança, quando o cajueiral dominava toda esta região do Meireles, quando ninguém aqui queria morar.
Somente o povo da região, periferia então, sabia das chuvas do caju, do canto da sabiá, do pendúculo vermelho a contrastar com o verde da folhagem espessa e galhos retorcidos pendentes em grandes copas, sombreando o lugar.
Somente os passarinhos, faziam seus ninhos e a alegria do ambiente sem compromissos, sem sacrifícios, sem conhecer violência, indolente, merecia um despertar.

Hoje me debruço na varanda e minha visão se perde no concreto indiscreto, sem emoção, e eu fico a pensar como o progresso é excesso na sua forma de ter. O prazer e os valores se transformam e nada mais informam do que será, da natureza encantada que se perdeu com a invasão da especularão imobiliária.

Fiquei somente nas minhas lembranças a me perguntar se vale à pena tanto progresso...



Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 19/10/2012

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