quinta-feira, 7 de março de 2013

O LAMENTO DO BEM-TE-VI

Fotografia e Arte: Kuarup Mawutzinin



Um símbolo da minha infância, o Bem-Te-Vi. Ícone cativo do tempo que se desfaz como vento sem rumo, sem canto a chegar.
Cantor de lamentos repetidos nas galhas do cajueiro nativo a encantar o primeiro ente cativo da beleza no seu passar.
Somente lamentos cantava e mesmo assim era muito lindo!
Era muito lindo desfrutar da pureza daquele pássaro que chorava a solidão, num repetido frasear, como o lamento do nordestino que chora como se tudo viesse a se perder, passar, secar no implacável Sol do meu Ceará.
Sem dó, sem Deus, sem liberdade, sem aconchega no coração. Canção lamento, que se repete sem cessar e compete com tudo o que desperta recordação.
Ontem o lamento fez-se presente no meu olhar, que ausente da folhagem verde do cajueiro, não viu o tempo passar contrastante com os pendúculos vermelhos; fez-me bater a emoção!
É lindo! É muito lindo! Uma gota de lágrima correu-me na face com a dor do Bem-Ti-Vi cantor, tentando contar no seu cantar, uma história de amor à natureza perdida no verde do cajueiral.
Perderam-se valores de uma eternidade que os olhares dos meus netos não mais vão desfrutar, nem seu corpo tocar, nem seu olfato sentir, nem seus ouvidos escutar.
Restaram somente telas anônimas, entrelaçando muros divisores, impregnados de mofo, uma prisão aberta, somente lembranças desertas, incompletas, uma oração quase perdida...




Alvaro de Oliveira
Fortaleza, 07/03/2013

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