sexta-feira, 23 de março de 2012

MACUMBA NA FLORESTA DA TIJUCA

Folheando a revista da TAM me deparei com uma reportagem sobre a Floresta da Tijuca. Imediatamente meus pensamentos viajaram para 1965, quando, por dois anos, morei no Rio de Janeiro.

Nos finais de semana, ir a Floresta, era um dos passeios favoritos do Tio Décio* e eu era o seu companheiro inseparável nesses passeios. Isso me agradava! E como ele se divertia! No caminho de ida sempre parávamos para comprar bananinha ouro e jaca. Ele descia do carro, pechinchava e ali mesmo se deliciava com as frutas, fresquinhas, vendidas na beira da estrada. Estes momentos já valiam o passeio. Confesso que na minha santa ignorância e timidez eu não entendia a dimensão daquele prazer. Mas era muito bom ver a felicidade nos olhos e no sorriso dele.
Pechinchava, mas sempre cedia, era um homem justo e bom. E a Tia Nini acompanhava na sua mansidão de sempre, sorridente, como se nada estivesse acontecendo.


Quando chegávamos ele se transformava. Virava pesquisador. Se embrenhava pelas trilhas, como se as conhecesse profundamente e ia me mostrando cada detalhe. Pra tudo tinha um comentário. Era uma delícia! Ele adorava este passeio e eu também. O fato é que o tio Décio queria mesmo era encontrar os despachos de macumba que se fazia na noite anterior. Não aquietava enquanto não achasse um. E quando encontrava, se agachava e começava a separar as coisas. Eram as velas, a cachaça, a galinha assada, sem nenhum receio. Ele se divertia me mostrando e comentando a crença. Pra ele aquilo era uma grande aventura e pra mim uma oportunidade de desfrutar da sua companhia.


Como eu aprendi com o Tio Décio!
Como sua simplicidade me influenciou!

Alvaro de Oliveira
Voando para Orlando, Fl
22/03/2012


*O Tio Décio é o Juiz Décio Xavier Gama, que ainda hoje mora no Rio de Janeiro, no bucólico bairro do Grajaú e é casado com a Tia Nini – Anadir – irmã do meu pai.

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